Minas em Tech criando mais oportunidades para elas na tecnologia

Feliz dia das mulheres para todas, principalmente para as poucas cientistas do Brasil.

Por Renata Neves

Fonte: Casa Hacker

Uma criança que está na escola já aprende desde cedo que deve escolher uma profissão para “ser quando crescer”. Geralmente, a escolha de carreira é livre para os pequenos sonhadores, porém para as meninas há sempre limitações entre o sonho, o apoio e o conhecimento.

Isto significa, que as possibilidades de profissão para as meninas se restringem ao que elas já conhecem ou ouviram por outras pessoas.

Ao final do ensino médio, elas se contentam em sonhar com o que já foi apresentado, sem saber que podem explorar habilidades ou segmentos que têm carência da presença de mulheres.

As áreas de tecnologia, inovação e empreendedorismo, por exemplo, são lugares onde é comum ver homens na liderança ou formando a grande parte das equipes.

Por isso, um dos efeitos colaterais dessa situação é impactado diretamente naquela garota de sete anos que não pode perguntar como faz para trabalhar com robótica, já que pelo senso comum, ela não se encaixaria.

Inclusive, a falta da presença feminina associada a estes setores de criação, limita o pensamento de jovens mulheres, além de causar desconforto sobre o futuro.

Pensando em um futuro com mais equidade, a Casa Hacker e a PPG Brasil desenvolveram o projeto Minas em Tech, que é destinado para meninas do ensino médio entrarem de cabeça na tecnologia.

Então, neste dia das mulheres queremos incentivar você a conhecer mais sobre o projeto e toda a relevância de seu impacto.

Vamos lá?

Quais são os sonhos de uma menina do médio?

Já passamos por grandes mudanças na inovação, na tecnologia e inclusive na saúde mundial, porém todos os anos inúmeras pesquisas apontam que faltam mulheres nas carreiras de exatas.

Em 2020, o Inep apontou que 59% dos estudantes universitários são mulheres, mas apenas 41% participa de cursos de ciências exatas. E, em 2019, a Organização das Nações Unidas (ONU) revelou que somente 24% das mulheres que trabalham no Brasil, seguem carreira na STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática).

Estes e outros estudos já entenderam que os esforços para inserir as mulheres no mercado de tecnologia se inicia na escola.

Quando uma construção social defende a separação de funções entre homens e mulheres, temos uma perda significativa de jovens meninas interessadas em ciência.

A aluna do Minas em Tech 2022, Bruna da Silva Santos (16 anos), afirma: “Eu não conhecia a parte da tecnologia (sobre carreiras), mas o curso me mostrou várias coisas que gerou muito interesse. Antes, eu só pensava em fazer uma faculdade, mas agora quero saber sobre os vários outros tipos de tecnologia para eu me especializar em alguma delas.”

Começando na infância, ao menos se passa pela mente das meninas a possibilidade de trabalhar com inovações.

Então, mais tarde elas são limitadas e definidas como “menos aptas” para as áreas de exatas. Assim como a parte mecânica dos carros deve ser gerida apenas por homens ou a análise do hardware de um smartphone é solicitado apenas para eles.

Por outro lado, há sempre aquela garota que se destaca na multidão e se interessa por Inteligência Artificial desde o colegial. Qual é o caminho que esta menina deve trilhar a partir de agora?

Todas as respostas para esta questão são acompanhadas de limitações e obstáculos. É possível que a família não incentive as ideias, a escola não reconheça o potencial ou que outros profissionais na área a desanimem.

A aluna Nicolly dos Santos Alves (18 anos), do Minas em Tech 2022, conta que, quando eu era mais nova, gostava de ver a programação, mas nunca encontrou um curso que lhe interessasse.

Projetos como o Minas em Tech surgem com a principal intenção de ouvir essas jovens e, assim, criar uma base de conhecimento para que possam entender seus gostos e habilidades.

A busca por mais equidade na tecnologia

O segmento da tecnologia não é o único que precisa se preocupar com a desigualdade de gênero, no entanto é uma das áreas que claramente apresenta o desequilíbrio.

A aluna Nicole Santos Chaves (16 anos), do Minas em Tech 2022, compartilhou: “Meu tio mexia com informática e eu achava muito interessante, além de eu já gostar de assistir alguns vídeos sobre enigmas envolvendo programação, mas eu não fazia ideia da expansão que a tecnologia tem e nem me imaginava seguindo essa carreira.

Antes meus planos de carreira envolviam a medicina, como a pediatria e o nutricionismo. Atualmente, não deixei de gostar da área do nutricionismo, mas já pensei em várias outras como cientista, bióloga ou programadora. Já até pensei em usar a modelagem e impressão 3D para vendas.”

Muitas estudantes universitárias desistem do curso por serem minorias, por serem caladas ou serem subestimadas. Além disso, a diferença financeira entre homens e mulheres pode criar barreiras até maiores em direção ao estudo.

A professora coordenadora STEAM Aliene Villaça acrescenta que “Ainda é muito visível, quando vemos um curso de graduação, salta a diferença da presença marcante entre homens e mulheres. Mesmo que já tenha melhorado, ainda é muito marcante. A presença da mulher precisa se reafirmar o tempo todo, ela precisa mostrar seu valor o tempo todo como profissional. Apesar de vermos um avanço, a desigualdade ainda está presente sim.”

Enquanto que a tecnologia e a inovação estão aqui para facilitar a vida das pessoas, do outro lado há grupos de minorias — como mulheres, negras, LGBTQIAP+ e outros — que não podem participar dessa evolução.

Consequentemente, o Brasil permanece nesse limbo de pesquisas ou criações voltadas sempre para um único grupo.

Isso quer dizer que se não é possível encontrar a resolução de problemas para todos os brasileiros, possivelmente é porque não há representatividade o suficiente para tal.

Segundo a coordenadora, “O STEAM pode ser uma grande ferramenta para incentivar mais mulheres e meninas a pensar nessa possibilidade (sobre carreira na tecnologia). No Minas em Tech do ano passado, haviam muitas meninas que nem pensavam nessa possibilidade.

Se eu não sei que aquilo ali existe, aquilo não se torna uma possibilidade para mim. Se eu não sei que existe uma outra possibilidade para mim, aquilo passa a fazer sentido. É comum meninas escolherem carreiras que estão acostumadas a ver.”

Com a busca pela equidade, o Minas em Tech decidiu utilizar a abordagem da Educação STEAM que resultou na participação e interesse genuíno das meninas nas áreas de Exatas.

Por meio da descoberta e do conhecimento prático, as garotas conquistam mais confiança em um ambiente seguro. O que já é um primeiro passo enorme para enfrentar o mercado de trabalho.

Sobre a experiência ao realizar um projeto, Nicole Santos conta: ”Fiz a escolha de trabalhar com as meninas que não eram tão próximas de mim porque já tínhamos ouvido que quando fôssemos trabalhar em algum lugar teríamos que aprender a lidar com pessoas novas, e assim eu fui e não me arrependo. Tive muitas novas experiências trabalhando com elas.”

O Minas em Tech

Um dos maiores objetivos e desafios deste projeto social é reforçar a equidade de gênero no tech.

Para isto, além do conteúdo bem planejado, é necessário estimular um ambiente seguro, compreender o processo para a identificação e o sentimento de pertencimento, trabalhar com o emocional e facilitar o caminho para conhecer outras pessoas.

Nicolly relata que “O Minas em Tech não foi somente um curso da área de tecnologia. Foi algo que nos ensinou sobre autoconhecimento, sobre ter paciência, sobre socializar e ensinou a sermos flexíveis com certas coisas.”

Tudo isso foi estruturado e planejado pelas professoras Isabela Gonçalves (coordenadora de Projetos de Gênero), Vivian Costa (professora STEAM) e Aliene Villaça (professora coordenadora STEAM)

Esse time de mulheres brilhantes do Minas em Tech, também passaram pelas dificuldades que as meninas enfrentarão no mercado de trabalho.

Portanto, as professoras deixam de ser apenas uma figura de conhecimento e saber, passando a ser um modelo real para a realização de sonhos. Diferente da escola comum, cujo professor é um adulto afastado que às vezes pode ser um modelo, mas geralmente é só parte de um sistema maior.

E, ter pessoas reais em que as meninas podem depositar confiança é essencial para a transformação da carreira.

Nesta situação, elas passam a perceber que é possível seguir outras alternativas, que podem ter suas conquistas pessoais e que também podem ser inspiração para outras gerações.

Aliene aponta que “Quando colocamos elas neste espaço em que ela tem voz, que pode dizer o que ela pensa, conhece outras mulheres, pode fazer testes e desenvolver o próprio projeto, isso traz para a aluna o processo de identificação e pertencimento.

Aquilo que era um “jamais irei fazer” começa a ser questionado como algo que elas podem ter interesse e executar.”

A participação de outras mulheres atuantes no mercado ou pesquisadoras, também, auxilia o processo da representatividade. É importante que cada aluna tenha seu modelo de identificação e que entenda que ela não está sozinha nesta jornada.

A aluna Bruna da Silva ressalta que “O curso teve um grande impacto na minha vida, ele me mostrou várias áreas que eu posso seguir, não só as áreas de trabalho comum, mas como as áreas da tecnologia como: inteligência artificial, programação física, desenvolvedor de código e entre outras.

Ele também teve um grande impacto nas questões de amizade e confiança. Lá, eu encontrei pessoas que realmente querem ajudar nisso, eu tive várias experiências com as visitas nas empresas, nos eventos.

Então, teve um grande impacto positivo, principalmente as professoras que me ajudaram muito e tenho só a agradecer a elas por me mostrarem tudo isso”, completa.

Educação STEAM na prática

Vamos entender um pouco o que é a abordagem STEAM que foi citado pela coordenadora Aliene e parece ser muito importante para o Minas em tech.

O conceito de STEAM vem do acrônimo Science, Technology, Engineering, Arts e Mathematics e deve ser entendido como uma abordagem interdisciplinar que integra Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática para alunos em qualquer nível.

O STEAM foi estudado conforme o surgimento de duas grandes questões: Primeiro, como aumentar o número de profissionais capacitados nas áreas de exatas e, segundo, como incentivar o estudo e o interesse dos alunos mais novos nestas disciplinas mais “temidas”?

Então, em 1990, nos Estados Unidos, aparece a proposta para o STEM e anos depois é atualizada para STEAM como uma solução para o desenvolvimento rápido de habilidades novas e pensamento crítico.

Os alunos são incentivados a investigar, descobrir, conectar, criar e refletir, quantas vezes forem necessárias em seus projetos.

Por isso, um estudante passa a ter interesse natural nos assuntos, além de entender a necessidade dos conteúdos.

A professora coordenadora STEAM, Aliene, explica como funciona a abordagem no projeto. Segundo ela, “No minas em tech, temos conteúdos que são a base que guiam o nosso currículo, temos os conteúdos de eletrônica, programação, inteligência artificial, modelagem e impressão 3D. O, então, Steam entra como possibilidade de mostrar esse conhecimento de maneira prática.

Nós utilizamos a abordagem com a sua metodologia na parte de projetos. São pequenos projetos e ações que devem ser trabalhados em grupo e discutidos. O objetivo é desenvolver o que tenha sentido e significado para elas, mas com base nas aulas que estiverem aprendendo.

Ao final do curso é desenvolvido um projeto maior e mais robusto que envolve o ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e que envolve a realidade delas.”

Por exemplo, a aluna Bruna da Silva e Nicolly dos Santos Alves desenvolveram, com seu grupo, a junção do sensor de temperatura com o sensor de frequência cardíaca depois de realizarem observações sobre os postos de saúde em seus bairros.

Segundo Nicolly, “Pensamos nisso por conta dos problemas do Covid e percebemos que a maioria dos sintomas dava para perceber pela temperatura do corpo e pela frequência cardíaca. Então, muitas vezes, as pessoas de classe baixa não tem um instrumento para verificar isso e acabam indo parar no UPA. O problema é que no UPA é sempre mais demorado, então criamos essa alternativa para acelerar o atendimento de lá.”

Já a aluna Nicole Santos Chaves realizou com seu grupo uma prótese de mão, que iria abrir e fechar de acordo com os sinais do músculo do braço. “Passamos por altos e baixos e desanimamos quando achamos difícil demais, mas as professoras nos ajudaram e assim conseguimos concluir o projeto”, afirma.

“Não me arrependo nem um pouco de ter feito o Minas em Tech, fui por puro interesse meu e hoje me sinto muito mais confiante pra várias coisas, foi uma ótima experiência na minha vida”, completa.

Você também pode ler sobre outros projetos desenvolvidos em 2022 clicando no link aqui!

É importante ressaltar que para a educação STEAM “Não é o conhecimento tendo mais valor que o projeto, mas sim o conteúdo a serviço do projeto que estiverem desenvolvendo”, como diz Aliene.

Dicas para quem gosta de inovação

Claro que é comum se questionar se a carreira na tecnologia é para você mesma ou não.

Na verdade, o Minas em Tech também abraça meninas com mais dúvidas do que certezas, mas caso você ainda esteja desconfiada sobre os seus gostos e vontades, há sempre a internet para nos salvar.

Escola Virtual da Fundação Bradesco disponibiliza vários cursinhos para conhecer. Por meio deles, você já pode identificar se há assuntos que goste ou tenha curiosidade.

Além disso, é possível conhecer também o PrograMaria, um curso voltado para mulheres que combate a desigualdade de gênero na área da programação.

Estas dicas foram mandadas pela coordenadora Aliene e você pode encontrar mais opções ou conhecer outras mulheres incríveis como a Nina Da Hora e Carla da Física Preta.

E se você é uma professora, cientista, atuante da área ou uma voluntária com interesse em nos ajudar, mande uma mensagem para a nossa equipe pelo e-mail minasemtech@casahacker.org ou mande uma mensagem pelo whatsapp para (19) 99699–1534.

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