Fórum de Juventudes: Saúde Mental da Juventude Negra

Jovens participantes da primeira edição do Fórum Territorial, realizado no Jardim Campo Belo, em Campinas, no dia 24 de agosto de 2024

No dia 23 de novembro de 2024, a Casa de Cultura Aquarela, localizada na região sudoeste de Campinas-SP, foi palco da terceira edição do Fórum de Juventudes 2024. O evento teve como foco o protagonismo das juventudes negras e a discussão sobre saúde mental, oferecendo um espaço para que jovens compartilhassem suas vivências e desafios. A iniciativa reafirma a importância de ouvir as juventudes, promovendo uma reflexão sobre os impactos estruturais que afetam a saúde mental, especialmente nas periferias e entre jovens negros.

Escuta Ativa e Protagonismo

O evento foi pautado pela escuta ativa, refletida nas dinâmicas de participação que permitiram aos presentes se expressarem com segurança e criticidade. A escuta envolveu não apenas as juventudes, mas também o território e as potencialidades desse grupo, que enfrenta tanto a marginalização quanto os efeitos da precarização das políticas públicas de saúde.

Embora o recorte tenha sido a saúde mental, o debate destacou a impossibilidade de desvincular essa temática das questões estruturais que afetam as juventudes negras e periféricas. O espaço permitiu que escuta e criticidade caminhassem juntas, proporcionando discussões aprofundadas sobre desafios e possíveis soluções.

Desafios e Soluções

As perguntas norteadoras — “De 0 a 10, como está sua saúde mental?”, “O que afeta sua saúde mental atualmente?” e “Qual foi a última vez que você foi à terapia?” — serviram como ponto de partida para discussões enriquecedoras. Através de respostas anônimas, registradas em post-its, os jovens compartilharam vulnerabilidades, trazendo relatos impactantes que logo se estendiam para além do que a pergunta parecia provocar.

Entre os desafios, destacam-se o estigma em torno da saúde mental nas periferias, a solidão, a falta de espaços de compartilhamento e o acesso limitado a serviços de saúde psicológica. Além disso, foi apontado o impacto do sistema capitalista e das estruturas sociais que negligenciam as juventudes negras e periféricas, reforçando desigualdades e agravando os problemas de saúde mental.

Os debates também evidenciaram que a arte e a cultura são ferramentas essenciais para mitigar o sofrimento mental e ressignificar dores. Como destaca Emicida, em sua música “Levanta e Anda”:

“A vida é louca, mano, a vida é louca / Sempre imaginando a ruptura dessa bolha.”

A expressão cultural se tornou um espaço de força e resistência, permitindo que as juventudes negras criassem novos significados para as adversidades enfrentadas.

Cultura e Articulação para a Ruptura da Bolha

O evento contou com a participação da artista Joana Black, que compartilhou sua trajetória e apresentou poesias que trouxeram reflexões sensíveis e necessárias sobre saúde mental e racismo estrutural.

Gabriel José, fundador do projeto Mente Sã, discutiu a importância de abordar a saúde mental de forma integrada, considerando as particularidades das juventudes periféricas. Seu relato sobre os desafios e aprendizados na criação do projeto foi um chamado à ação, sem deixar de destacar a necessidade de questionar as ausências estruturais que permeiam o campo da saúde mental no Brasil.

Conclusão e Perspectivas

Na etapa final, os participantes foram divididos em grupos para elaborar propostas de soluções tanto no campo das políticas públicas quanto nas práticas cotidianas de cuidado e acolhimento comunitário. Esse momento fomentou a participação ativa da juventude na elaboração de propostas e no fortalecimento do senso de pertencimento, trabalhando a construção e ampliação de repertórios e imaginários em que ser parte da elaboração de soluções sociais e públicas compõe a trajetória da juventude negra, periférica e dos diferentes grupos historicamente marginalizados.

O Fórum cumpriu, mais uma vez, seu papel de escuta, conscientização e provocação, atuando como um catalisador para mudanças estruturais. Com foco em fortalecer a participação social das juventudes negras e periféricas, o evento reiterou a urgência de discutir, junto às juventudes, a importância de garantir acesso a direitos básicos e cuidados essenciais.

Escrito por:

Débora Cristina da Paz
Gerente do Projeto Fórum de Juventudes 2024

Com a colaboração da relatoria de:

Jefferson Rodrigues
Jovem líder do comitê de governança do Fórum de Juventudes 2024

Referências

Tags:

Escrito por

Compartilhe

O que você achou?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts relacionados