
No dia 23 de novembro de 2024, a Casa de Cultura Aquarela, localizada na região sudoeste de Campinas-SP, foi palco da terceira edição do Fórum de Juventudes 2024. O evento teve como foco o protagonismo das juventudes negras e a discussão sobre saúde mental, oferecendo um espaço para que jovens compartilhassem suas vivências e desafios. A iniciativa reafirma a importância de ouvir as juventudes, promovendo uma reflexão sobre os impactos estruturais que afetam a saúde mental, especialmente nas periferias e entre jovens negros.
Escuta Ativa e Protagonismo
O evento foi pautado pela escuta ativa, refletida nas dinâmicas de participação que permitiram aos presentes se expressarem com segurança e criticidade. A escuta envolveu não apenas as juventudes, mas também o território e as potencialidades desse grupo, que enfrenta tanto a marginalização quanto os efeitos da precarização das políticas públicas de saúde.
Embora o recorte tenha sido a saúde mental, o debate destacou a impossibilidade de desvincular essa temática das questões estruturais que afetam as juventudes negras e periféricas. O espaço permitiu que escuta e criticidade caminhassem juntas, proporcionando discussões aprofundadas sobre desafios e possíveis soluções.
Desafios e Soluções
As perguntas norteadoras — “De 0 a 10, como está sua saúde mental?”, “O que afeta sua saúde mental atualmente?” e “Qual foi a última vez que você foi à terapia?” — serviram como ponto de partida para discussões enriquecedoras. Através de respostas anônimas, registradas em post-its, os jovens compartilharam vulnerabilidades, trazendo relatos impactantes que logo se estendiam para além do que a pergunta parecia provocar.
Entre os desafios, destacam-se o estigma em torno da saúde mental nas periferias, a solidão, a falta de espaços de compartilhamento e o acesso limitado a serviços de saúde psicológica. Além disso, foi apontado o impacto do sistema capitalista e das estruturas sociais que negligenciam as juventudes negras e periféricas, reforçando desigualdades e agravando os problemas de saúde mental.
Os debates também evidenciaram que a arte e a cultura são ferramentas essenciais para mitigar o sofrimento mental e ressignificar dores. Como destaca Emicida, em sua música “Levanta e Anda”:
“A vida é louca, mano, a vida é louca / Sempre imaginando a ruptura dessa bolha.”
A expressão cultural se tornou um espaço de força e resistência, permitindo que as juventudes negras criassem novos significados para as adversidades enfrentadas.
Cultura e Articulação para a Ruptura da Bolha
O evento contou com a participação da artista Joana Black, que compartilhou sua trajetória e apresentou poesias que trouxeram reflexões sensíveis e necessárias sobre saúde mental e racismo estrutural.
Gabriel José, fundador do projeto Mente Sã, discutiu a importância de abordar a saúde mental de forma integrada, considerando as particularidades das juventudes periféricas. Seu relato sobre os desafios e aprendizados na criação do projeto foi um chamado à ação, sem deixar de destacar a necessidade de questionar as ausências estruturais que permeiam o campo da saúde mental no Brasil.
Conclusão e Perspectivas
Na etapa final, os participantes foram divididos em grupos para elaborar propostas de soluções tanto no campo das políticas públicas quanto nas práticas cotidianas de cuidado e acolhimento comunitário. Esse momento fomentou a participação ativa da juventude na elaboração de propostas e no fortalecimento do senso de pertencimento, trabalhando a construção e ampliação de repertórios e imaginários em que ser parte da elaboração de soluções sociais e públicas compõe a trajetória da juventude negra, periférica e dos diferentes grupos historicamente marginalizados.
O Fórum cumpriu, mais uma vez, seu papel de escuta, conscientização e provocação, atuando como um catalisador para mudanças estruturais. Com foco em fortalecer a participação social das juventudes negras e periféricas, o evento reiterou a urgência de discutir, junto às juventudes, a importância de garantir acesso a direitos básicos e cuidados essenciais.
Escrito por:
Débora Cristina da Paz
Gerente do Projeto Fórum de Juventudes 2024
Com a colaboração da relatoria de:
Jefferson Rodrigues
Jovem líder do comitê de governança do Fórum de Juventudes 2024
Referências
- Emicida. Levanta e Anda. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=GZgnl5Ocuh8.
- IBGE. Informações sobre juventude e homicídios. Disponível em: https://prp.unicamp.br/inscricao-congresso/resumos/2021P19115A35333O5527.pdf.